MOISÉS, O PRIMEIRO REI DE ISRAEL.
Se você chegou até aqui deve estar se perguntando de onde Zayit tirou
essa ideia absurda. Contudo, eu sei que o tema lhe chamou atenção e o seu
desejo é tirar a prova dos nove.
Um dos maiores problemas dos leitores do texto bíblico são suas
verdades absolutas e conceitos pré-estabelecidos. Estes fatores dificultam um
melhor aprendizado e uma nova visão sobre determinados temas.
Algumas pessoas tendem a realizar uma leitura no intuito de encontrar
no bojo do texto bíblico fatores que sustentem suas teses e conceitos teológicos.
Todavia, a Bíblia não é a caixinha de pandora ou a lâmpada de Aladim.
Preliminarmente, quero deixar claro que ninguém é obrigado a
concordar com o que está escrito neste post, bem como não sou obrigado a olhar
para o texto da Bíblia com a visão limitada, uma vez que a mesma é um profundo
mar de ensinamentos e sabedoria.
Você está se perguntando em qual o momento eu vou abordar o assunto
cujo tema lhe trouxe até aqui, vamos caminhando!
Eu já sei que muitos dirão: “sabemos que o primeiro Rei de Israel
foi Saul e isso já está pacificado no entendimento literal do texto, vejamos:
“Disse o Senhor a Samuel: Atende à
voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para
eu não reinar sobre ele. ” (Almeida Corrigida Fiel)
1 Samuel 8:7.
“Referiu Samuel todas as palavras do
Senhor ao povo, que lhe pedia um rei. ”
1 Samuel 8:10
“Tomou Samuel um vaso de azeite, e
lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Não te ungiu, porventura, o
Senhor por príncipe sobre a sua herança, o povo de Israel? ”
1
Samuel 10:1
Conforme os textos supracitados, o povo se dirigiu até Samuel e
solicitou que constituísse um rei sobre eles, consequentemente, Samuel ungiu
Saul e este se torno rei, visando atender o desejo do coração do povo.
Sim, e Moisés aparece em qual momento dessa história? – Como vocês
já sabem, a pergunta que devemos fazer é a seguinte:
O QUE
DIZ A BÍBLIA?
A história de Moisés é
amplamente conhecida, por isso, não irei me ater com toda a explicação sobre
seu nascimento e sua vida. Sabemos que Moisés foi escolhido após o Eterno ouvir
o clamor do povo que gemia por conta da escravidão (Ex 2:23-25).
A missão ao qual Moisés foi
designado pelo Eterno necessitava de uma outorga de poderes semelhantes ou ainda
maior do que a do homem mais poderoso da terra (naquela época), cujo título era
o de Faraó, isso mesmo que você acabou de ler, Faraó não é um nome, mas, sim,
um título designado pela Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) ao rei da terra do
Egito.
Moisés foi criado dentro da
cultura egípcia e sabia que o Faraó era muito vaidoso e não daria ouvidos a
qualquer pessoa, por isso, se fazia necessário que ele fosse até a grande casa
(local onde o Faraó se estabelecia) na mesma posição para que a conversa
tivesse grande relevância e, talvez, um diálogo amigável, o que sabemos que não
ocorreu.
Sendo assim, o Eterno coloca
Moisés em uma posição de destaque perante todo o povo:
“Então,
disse o Senhor a Moisés: Vê que te constituí como Deus
sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta. ”
Êxodo 7:1
Vejamos o que diz o texto em hebraico:
וַיֹּ֤אמֶר יְהוָה֙ אֶל־מֹשֶׁ֔ה רְאֵ֛ה
נְתַתִּ֥יךָ אֱלֹהִ֖ים לְפַרְעֹ֑ה
וְאַהֲרֹ֥ן אָחִ֖יךָ יִהְיֶ֥ה נְבִיאֶֽךָ
A expressão que
foi traduzida como Deus é “Elohim”, cujo significado quer dizer “poderoso,
representante e até mesmo juiz”, ou seja, o Eterno estabeleceu Moisés como alguém poderoso sobre
todo o povo, com isso Moisés assumiu a liderança e se tornou o responsável por
ditar as instruções (Torá = instrução) ora transmitidas pelo Eterno.
Para os mais
religiosos o texto é um problema (risos), como um ser humano é designado como “Deus”
perante o povo e o Faraó?
Contudo, os
leitores que se distanciam de dogmas e verdades absolutas, entendendo o
contexto do antigo oriente médio e a cultura semita, compreendem que o Rei
tinha uma representatividade muito forte perante seu povo, pois o mesmo era
considerado uma divindade, ou seja, o Rei era a própria divindade na terra, bem
como o responsável por ser intermediário entre os deuses e o povo.
Para maiores
informações sobre a ideia de homens e divindades leia o post REPRESENTANDO DEUSES E HOMENS NO ANTIGO ORIENTE MÉDIO E NA BÍBLIA e um pouco sobre o Faraó aqui.
Entendido esses
pequenos detalhes (que fazem toda diferença), percebemos o que levou o autor do
livro do Êxodo destacar tais características.
Vejamos um
texto do livro de Deuteronômio 33:1-5 (iremos focar no verso 5), que passa
despercebido por muitas pessoas:
“Esta é a bênção que Moisés, homem de Deus, deu aos filhos de
Israel, antes da sua morte.
Disse, pois: O Senhor veio do Sinai e lhes alvoreceu de Seir,
resplandeceu desde o monte Parã; e veio das miríades de santos; à sua direita,
havia para eles o fogo da lei.
Na verdade, amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão;
eles se colocam a teus pés e aprendem das tuas palavras.
Moisés nos prescreveu a lei por herança da congregação de Jacó.
E o Senhor se tornou rei ao seu povo
amado, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel. ” (Almeida
Revista e Atualizada)
Deuteronômio
33:1-5
Notem o que diz
o verso 5 na versão Almeida Revista e Atualizada “E o Senhor se tornou
rei ao seu povo amado, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos
de Israel”.
Nova Versão Internacional – NVI: “Ele
era rei sobre Jesurum, quando os chefes do povo se reuniam, juntamente com as
tribos de Israel.”
Deuteronômio
33:5
Jewish Study
Bible (Bíblia de Estudo Judaica): “Tornou-se rei em Jesurun, quando se reuniram
os chefes do povo, as tribos de Israel. ”
Deuteronômio
33:5
Ao passear por
muitas versões encontraremos expressões como: “o Senhor se tornou rei, Ele
era/se tornou rei, tornou-se rei, foi rei, houve rei”, ou seja, os tradutores
optam por diversas formas, mas o melhor entendimento é possível à luz do texto
hebraico:
1 וְזֹ֣את הַבְּרָכָ֗ה אֲשֶׁ֨ר בֵּרַ֥ךְ מֹשֶׁ֛ה אִ֥ישׁ הָאֱלֹהִ֖ים אֶת־ בְּנֵ֣י יִשְׂרָאֵ֑ל לִפְנֵ֖י מוֹתֽוֹ׃
2 וַיֹּאמַ֗ר יְהוָ֞ה מִסִּינַ֥י בָּא֙ וְזָרַ֤ח מִשֵּׂעִיר֙ לָ֔מוֹ הוֹפִ֙יעַ֙ מֵהַ֣ר פָּארָ֔ן וְאָתָ֖ה מֵרִבְבֹ֣ת קֹ֑דֶשׁ מִֽימִינ֕וֹ [אשדת] (אֵ֥שׁ) (דָּ֖ת) לָֽמוֹ׃
3 אַ֚ף חֹבֵ֣ב עַמִּ֔ים כָּל־ קְדֹשָׁ֖יו בְּיָדֶ֑ךָ וְהֵם֙ תֻּכּ֣וּ לְרַגְלֶ֔ךָ יִשָּׂ֖א מִדַּבְּרֹתֶֽיךָ׃
Se você não
consegue ler em hebraico não precisa se desesperar, o texto foi inserido para
que possamos perceber como se dá a divisão dos textos.
Os dois
pontinhos de cada linha chamam-se “sof passuq”, que significa final do verso,
ou seja, ele “conclui” o verso e inicia um novo discurso.
Percebam que o verso 5 inicia um novo discurso, pois o sof passuq marcou o fim do verso 4.
Vejamos uma versão
interlinear do verso 5:
וַיְהִ֥י = E se
tornou
בִישֻׁר֖וּן= Em
Jeshurun
מֶ֑לֶךְ= Rei
בְּהִתְאַסֵּף֙= No se
recolher
רָ֣אשֵׁי= Cabeças de
עָ֔ם= Povo
יַ֖חַד= Juntos
שִׁבְטֵ֥י= As tribos de
יִשְׂרָאֵֽל׃= Israel
Antes de entender quem é o sujeito do verso 5, precisamos compreender que a expressão ‘Jeshurun” é apenas um nome poético de Israel “para designar seu caráter”.
Ademais, como se nota o discurso se inicia dizendo que alguém se tornou Rei em Jeshurun, mas quem é o sujeito desse discurso?
O autor do Livro de Deuteronômio enfatiza no início do seu discurso que: "esta é a benção que Moisés, homem do Eterno, proferiu sobre o povo (os filhos de Israel) antes da sua morte. Assim, Moisés é o sujeito principal que abençoa o povo.
O verso 2 traz à baila qual é a benção que o povo recebeu, colocando a figura do Eterno como a grande divindade que apareceu no monte Sinai e guardou o povo por toda a caminhada, notem que a estrutura da narrativa do discurso impulsiona o leitor a relembrar as bençãos dos patriarcas, e assim selar uma excelente história romântica de novela. O aludido discurso tentar montar um quebra-cabeça do livro do Gênesis (na figura dos patriarcas) com o livro de Deuteronômio (com a figura de Moisés).
É preciso salientar que o enrendo dos versos 2 e 3, a priori, parecem ser uma inserção do autor para conectar varias histórias. Percebam que se os versos 2 e 3 foram retirados não ocorre mudança alguma na mensagem que se deseja transmitir, muito pelo contrário, deixa a narrativa mas simples e com muito mais facilidade de entendimento.
Mas antes disso, vocês precisam saber que no mundo acadêmico sabe-se que o verso 4 trata-se de uma glosa.
Isto posto, vamos remontar o texto sem os versos 2 e 3 e, também, o verso 4 por se tratar de uma glosa:
Vejamos alguns comentários da literatura judaica sobre o tema:
Ademais, como se nota o discurso se inicia dizendo que alguém se tornou Rei em Jeshurun, mas quem é o sujeito desse discurso?
O autor do Livro de Deuteronômio enfatiza no início do seu discurso que: "esta é a benção que Moisés, homem do Eterno, proferiu sobre o povo (os filhos de Israel) antes da sua morte. Assim, Moisés é o sujeito principal que abençoa o povo.
O verso 2 traz à baila qual é a benção que o povo recebeu, colocando a figura do Eterno como a grande divindade que apareceu no monte Sinai e guardou o povo por toda a caminhada, notem que a estrutura da narrativa do discurso impulsiona o leitor a relembrar as bençãos dos patriarcas, e assim selar uma excelente história romântica de novela. O aludido discurso tentar montar um quebra-cabeça do livro do Gênesis (na figura dos patriarcas) com o livro de Deuteronômio (com a figura de Moisés).
É preciso salientar que o enrendo dos versos 2 e 3, a priori, parecem ser uma inserção do autor para conectar varias histórias. Percebam que se os versos 2 e 3 foram retirados não ocorre mudança alguma na mensagem que se deseja transmitir, muito pelo contrário, deixa a narrativa mas simples e com muito mais facilidade de entendimento.
Mas antes disso, vocês precisam saber que no mundo acadêmico sabe-se que o verso 4 trata-se de uma glosa.
Isto posto, vamos remontar o texto sem os versos 2 e 3 e, também, o verso 4 por se tratar de uma glosa:
“Esta é a bênção que Moisés, homem de Deus, deu aos filhos de Israel, antes da sua morte.
E foi / se tornou rei ao seu povo amado, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel.
Deuteronômio 33:1 e 5
Deste modo, o texto faz muito mais sentido, pois a narrativa em linguagem poética oferece muita dificuldade de tradução e, com frequência, deixa a mesma insegura.
Deste modo, o texto faz muito mais sentido, pois a narrativa em linguagem poética oferece muita dificuldade de tradução e, com frequência, deixa a mesma insegura.
Vejamos alguns comentários da literatura judaica sobre o tema:
“e ele (Moisés) era rei sobre nós e de todas as
nossas tribos juntas, e merecemos fazer suas palavras decretos, pois era nosso rei
grande e sábio, seus ensinamentos e reinado foram recebidos por todas as tribos
por suas gerações; portanto, são dignos de bênção. ”
ויהי
בישורון מלך, “Ele se tornou rei sobre Yeshurun; etc.” Nachmanides escreve
que a palavra ישורון é uma alusão ao santo
nome de Hashem, que era realmente rei em Israel, desde que o povo judeu fosse
leal a Ele e à Sua Torá. O versículo é uma continuação do verso anterior e
descreve quando todos os líderes do povo se reuniram e a nação inteira. Os
israelitas, quando aceitaram a Torá, queriam dizer que era a Torá de todos, não
um Livro destinado apenas à elite do povo. Como tal, é apropriadamente
denominado “herança nacional, מורשה”. Ele nunca será
trocado, mesmo no sentido de ser “atualizado”. Aceitação de עול מלכות שמים, “o jugo do Reino dos Céus, por definição,
significa que é para sempre, não sujeito a alterações. Moisés tem que reiterar
tudo isso, visto que o povo, a seu pedido, recebeu todas as leis, exceto os
dois primeiros dos Dez Mandamentos de Moisés, a quem eles designaram como
intermediários confiáveis. Alguns comentaristas dizem que o assunto de ויהי בישורון מלך não é D'us, mas Moisés; Ele fora aceito e
aclamado como tal na assembléia de todas as pessoas, incluindo os anciãos que
ouviram a Torá explicada diretamente por Moisés, depois de ouvi-lo de sua
própria boca. Moisés havia ordenado que, a partir de agora, essa Torá fosse
considerada uma herança nacional de todo o povo para sempre. Visto que Moisés
era tão notável e ilustre, era apropriado que a Torá que ele trouxera ao povo
fosse abraçada com o maior respeito. Uma terceira visão sustenta que as
palavras ויהי בישורון מלך se referem à Torá, ou
seja, que a Torá deve governar Israel como um rei, gozar do mesmo respeito e
reverência. "Yeshurun", em todas essas interpretações, é um termo
complementar para o povo de Israel.”
“Uma abordagem midrashica (Pessikta Zutrata):
O “rei” referido na linha ויהי בישורון מלך, é
Moisés, visto que as pessoas ouviram toda a Torá (legislação) de sua boca. A
Torá significa que a maneira pela qual todas as pessoas, incluindo suas cabeças
tribais, se reuniram ao seu redor, deu a Moisés a estatura de rei. Não foi a
primeira vez que Moisés agiu como legislador. Isso ocorreu em Dt. 31,9 já
quando ele havia dado a Torá aos sacerdotes, levitas, portadores da Arca Santa.
Também encontramos Moisés ordenando que todo o povo aparecesse em sua presença
em Dt. 31,28 . Outra maneira de entender nosso versículo é que o
"rei" descrito aqui é o próprio D'us. A Torá descreve que D'us se
tornou rei somente quando todas as cabeças tribais se reuniram. Encontramos algo
semelhante descrito nos Salmos 47,8-10, onde Davi se refere à posição de D' us
como "rei" em conexão com os líderes da humanidade, indicando que
eles O aceitam como tal. No caso do povo judeu: “quando os líderes do povo se
ofereceram para reunir-se a Seu redor.” Temos outra descrição semelhante de
D'us se tornando rei em Amós 9,6 . [O profeta retrata que D'us não pode
construir Seus aposentos no céu até que uma assembléia de Seu povo leal
estabeleça o fundamento para isso na Terra. Ed.] O denominador comum em todos
esses versículos é que D'us não se impõe como “rei”, mas espera até que Suas
criaturas manifestem seu desejo de que Ele seja seu rei.”
“então Moisés escondeu o rosto, pois tinha
medo de olhe para Deus. ”E onde é mostrado que ele se tornou rei? Onde está
declarado (em Dt. 33:5):“ Então ele se tornou rei em Jesurun. ” O Santo,
bendito seja Ele, disse a: Moisés: “Eu te fiz um rei. Assim que tocarem
trombetas diante de um rei quando ele sair para a guerra, assim tocarão
trombetas diante de você quando você sair para a guerra. ”Como isso é mostrado?
Daquilo que eles leram sobre o assunto (em Núm. 10:2), “Faça duas trombetas de
prata”.
Conforme notamos, não há um concesso sobre quem é o sujeito do verso 5, há quem afirme ser o Eterno, entretanto, outros entendem ser Moisés o Nosso Mestre (Moshe Rabbeinu).
Não se pode olvidar que Moisés possuiu inúmeros atributos de um Rei, foi homem Poderoso (Elohim) na terra do Egito, se posicionou como Rei perante o povo e, com todo o apoio do Eterno, venceu a guerra contra o homem mais poderoso da terra, evidenciando, assim, que o Eterno é o Rei de Todo o Universo, e Moisés foi o grande Rei sobre o Egito.
Outrossim, seja como for, a
intenção não é realizar uma profunda análise sobre gramática da língua hebraica, mas chamar sua atenção para uma leitura mais
atenta, centrada, sem dogmas, sem viés teológico, e acima de tudo, com o coração
aberto para aprender do Criador, o Santo, Bendito Seja Ele.
Se não gostou coloca sua crítica abaixo, se achou interessante coloca o
elogio, se não achou nada, coloca uma nota de 0 a 10, se quiser, compartilha
com os amigos.
Shalom, Shalom,
Zayit Ben Yossef.

Muito bom o texto,desperto no leitor um senso crítico sobre o assunto e mostra que as escrituras tem muito mais a nos ensinar do que imaginamos.
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